quinta-feira, 29 de maio de 2008

O OVO COM SOLENIDADE:

(GOMES, Duílio. “O Ovo com Solenidade”. IN: Os Melhores Contos Fantásticos. Org. COSTA, Flávio Moreira da. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2006. p.693-95)

O cego estava quebrando o ovo para fazer omelete quando o porco entrou na cozinha. Sentiu-o aos seus pés; em silêncio, cheirava os seus pés. O cego estava de sandálias e a saliva do porco era uma coisa quente e líquida molhando o seu calcanhar direito. Os músculos do cego se retesaram. Sua mulher e sua filha haviam saído. Elas sabiam do grande medo que ele tinha de porcos e por isso os trancavam no chiqueiro. O cego percebeu, dentro da névoa do seu medo, que eles haviam arrebentado as tábuas podres do chiqueiro e saído. A mulher já o havia advertido: “As tábuas do chiqueiro estão podres. Precisamos trocá-las.” Eram três porcos gordos e espremidos no chiqueiro cujas tábuas iam apodrecendo debaixo das chuvas e dos carunchos. Viviam alucinados pelo calor, engordando e envelhecendo com as moscas que lhes trepavam nos lombos.

O cego estava sempre adiando a data de matá-los – esperava uma visita importante qualquer. Já não sabia há quanto tempo eles estavam em sua casa. Só sabia de sua aversão por eles e de uma iminente visita importante, quando então os mataria. Havia deixado a casca do ovo cair no chão e o porco agora a comia. Pelo menos enquanto ele come não se lembra de mim, pensou. Os velhos e agudos dentes, apesar de velhos, rasgariam a carne de suas pernas como se elas fossem manteiga. Tinha tanto medo do porco morder as suas pernas que elas não obedeciam ao seu intenso desejo de correr, e permaneciam fincadas no chão, expostas aos agudos dentes velhos do porco que agora, pelo silêncio, o cego sabia ter terminado de comer a casca do ovo e começava a cheirar o ar com seu largo, sujo e enrugado focinho de porco velho. As tábuas da escada que dava do quintal para a cozinha rangeram. Estão subindo outros, pensou o cego e o seu terror nesse momento foi tão intenso que ele sentiu, no escuro poço de sua vertigem, as pernas bambearem. Não posso cair, murmurou, não posso cair. Como um soco em sua memória, o aviso da mulher: só chegaremos à noite. Haviam saído, ela e a filha, para visitar uma parenta doente e o cego se rendeu, subitamente, à dolorosa realidade – ter de permanecer durante longo tempo como um monumento lívido e frágil em meio aos porcos. Eles agora rodeavam as suas pernas, grunhindo. Misturado aos seus roncos, que ecoavam na cozinha como a nota mais grave de um instrumento de sopro, o cheiro enjoativo do ovo sobre o prato. O cego lembrou-se, com uma ponta de desespero, da omelete que nunca comeria e então fez o gesto que talvez o salvasse da fome e do ódio dos seus porcos: com as mãos trêmulas derramou o ovo no chão. Foi um gesto mecânico tateante mas que inaugurou nele uma certa paz – os porcos lambiam o ovo no chão e isso era a trégua; enquanto eles se alimentavam não se lembrariam de suas pernas. Sua mulher tinha o costume de deixar os mantimentos sobre a pia, na frente da qual se encontrava, e ele tentava agora localizá-los. Sabia que a menina havia feito a feira naquela manhã e que enquanto entregava os mantimentos para a mãe, ia nomeando-os. Estava tudo na sua frente, além do vácuo negro dos seus olhos. Precisava detectar os mantimentos e com eles saciar a dura fome dos porcos. Apalpando a superfície úmida da pia, seus dedos tocaram num objeto morno. Era um objeto morno e redondo, com uma haste encimando-o. Abóbora, pensou, e puxou-a pela haste. O ruído seco da abóbora caindo no chão foi o ruído de uma abóbora que se partia e que se ofertava, amarela e luminosa, à avidez dos porcos. O ruído que se seguiu ao da abóbora se partindo foi o ruído dos porcos mastigando. Mastigavam com pressa e grunhiam. Havia satisfação nos seus grunhidos. O cego, então, com uma escura dificuldade, foi localizando e atirando ao chão o arroz, os quiabos, a couve, até que, não encontrando mais nada para atirar, escutou: a bolha de saliva arrebentando. Pelo denso silêncio que subia do chão ele entendeu que a bolha de saliva fora o final do festim. Entendeu também, com a profunda e mágica percepção dos cegos, que os porcos ainda não estavam saciados. E que o rodeavam, pensativos, os olhos fixos em suas pernas.

7 comentários:

eugenia disse...

oi~! eu sou eugenia. tudo bem? o tempo e' frio ne? todos cuidem o gripe. no primeiro eu na~o entendi por que o cego tenia medo dos porcos. so' eu entendi ele estava cozinhando omelete e o porco entrava sua casa. e ele estava protegendo a si mesmo. mas depois ler uma vez mais, eu entendi porque o cego estava medo com os porcos. porque o cego nunca viu como e porco. ele so; imagina que os dentes dos porcos. e talvez ele ouviu o som dos porcos. osso e' deu o medo para o cego. por isso eu riu e entendi. jajaja enta~o vamos conversar na aula

Linda Liu disse...

Olá, gente, sou Linda.

Acabei de ler o conto, a primeira impressão que eu tive é assim: "Que coidado, o cego! que tímido, o homem!"

Depois, eu achei que eu tenho conseguido entender a situação dele, eu também pude sentir o medo do cego e sua escura dificuldade das palavras que o author descreveu no conto.

Na minha opinião, eu achei que o author quis dizer:" O porco na imaginação seja mais terrível do que o na realidade; a dificuldade na sua imaginação seja mais dura do que a na realidade, então, não só pense,não só imagine; faça, use seus olhos para observar,depois lide com a dificulidade; você deve ter coragem para encarar as dificulidades, pois você seja mais sorte do que o cego, pelo menos você pode olhar."

Que interessante conto, pode deixar nós ir, também pode deixar nós contemplar.

Linda Liu disse...

Que interessante conto, pode deixar nós rir, também pode deixar nós contemplar.

Desculpa,não é "ir", é "rir".

Yukari Eizuru disse...

Olá! Tudo bem??
Sou Yukari!
Quando li pela primeira vez, foi difícil entender o que os porcos estavam fazendo para o cego. Eu li mais tres vezes e o que entendi é seguinte;
1. O cego está cozinhando um omelete os porcos fujiram do chiqueiro e entraram na cozinha cheirando as pernas dele.
2. Os porcos comeram a casca do ovo que caiu no chão.
3. Os porcos queria mais comida e rasgariam as pernas dele. O cego tinha medo e deixou eles comer alimentos na pia e derramou ovo no chão.
4. No final não tinha nada para atirar para os porcos, mas eles ainda não estavam satisfeitos e olharam as pernas do cego.

O que eu entendi é mais ou menos isso. Eu não entendi o significado do título apesar de ter visto meu dicionário.
Alguém me ajude a entender melhor----!

Yukari

doce de coracao disse...

Oi eu sou kriss.eu já escreve um vez mas não menta pronto.Droga,

doce de coracao disse...

Oi gente, tudo bem vocés estão com cansados.eu sim.Cuidado tempo de brasil. As vezes estão com frio e quente ,Tempo está louca,agora eu também estu louca sobre contos.
este conto mais dificil do que um fricídio .Eu gosto muito esse conto tambem.Esse conto narrou o cego teve grande medo com porco.Há uma dia sua mulher e filho haviam saído ,mas as tábuas podres do chiqueiro e saído ,a mulher já o havia advertido para ele .mas ele não fez nada ,depois trés porcos saído do chiqueiro o cego esteve com grande medo,só soube atirar comidas para porcos,não soube fazer nada.
Este cnto disse para me:primeiro,a cada coisas precisam pensar denovo.por exemplo:as tábuas podres do chiqueiro e saído ,a mulher já o havia advertido,mas ocego não fez nada,se ele fez as tábuas denavos,por isso porcos não puderam sair do chiqueiro . Tudo coisas estão bom.
Segundo,nós precisamos pensar a cada coisas .Muitos coisas fizeram mais facil do que sua imaginaçao,vocé deve tentar com isso.No mundo não tem problemas dificil,Gente póde resolver tudos coisas ,nós não precisamos ter medo com quelquer coisas.A gente é forte sempre.vocé póde ganhar com coisas de dificuldade.portanto gente só precisa pensar e fazer.
Perfeite de conto ,muito legal de conto,nós também gente,nós vamos ganhar com conto,prova e professora.hhhhhhhhhhhhhhhhhhh

Unknown disse...

Olá, Gente! Sou Melissa. Eu ficou muito estranha quando recebi esse conto. Com a diferença de ´Fratricídio´, esse conto não me deu medo direto. Me fez sentir mal imaginando essa cena. O cego estava muito difícil que sair e sentir a vida real. Ele está se aprisionando em casa dele. Claro que ele pode sentir a vida, mas não é só verdade. Então para ele viver, o ambiente circunferência é difícil. Eu senti a piedade primeiro. Eu vou botar o conteúdo que eu entendia.

Homem cego que têm esposa, e filha e criam três porcos dentro num chiqueiro muito podre. A mulher dele já havia falado para ele consertar o chiqueiro, mas ele não fez nada. Por que pensava matar os porcos quando recebesse visita importante, que nunca aconteceu. Num dia, sozinho em casa, estava fazendo omlete para ele, percebeu que não estava sozinho. Dentro da cozinha havia com ele, um porco cheirando suas pernas. Ele tinha muito medo do porco porque o porco parecia que morderia sua perna. Então ele atirou a casca do ovo ao porco para que o porco fosse embora. Mas, isto não aconteceu. Aproximaram-se mais dois porcos. E o cego estava com mais medo. Por fim, ele atirou todos alimentos, que a esposa dele tinha deixado em cima da pia, no chão para os três porcos. Os porcos comeram tudo, mas mesmo assim continuaram dentro da cozinha. O cego podia sentir a saliva dos porcos em suas pernas. Isto significava que eles haviam terminado a comilança e continuavam ainda com fome. E o cego não tinha mais comida, restavam apenas suas pernas.

Boas férias! Aproveite muito e quero que vocês estejam feliz.
Tchau! Vamos contar nesse Blog também.
Beijos para minhas turmas.